O mito da semana cheia, o impossível e o incompreensível

Foto: Fernanda Luz/Ag Paulistão

Depois da humilhante, acachapante, depreciativa, pavorosa, medonha, horrorosa, e outros tantos sinônimos que tentem explicar a goleada por 4 a 0 sofrida contra um dos piores times da história do Santos, o técnico Gilson Kleina está tendo a semana inteira para tentar tirar algum bicho improvável da cartola para fazer com que a Lusa some, em duas rodadas, o mesmo número de pontos que conseguiu em dez. Ainda assim, dependendo do que os outros concorrentes façam, talvez não seja o suficiente, embora isso seja mais improvável que um time que ganhou um jogo em dez vença os dois que faltam.

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Tendo à disposição um time formado de forma improvisada, com jogadores que passam a impressão de terem se conhecido cinco minutos antes de cada jogo, o treineiro luso se agarra à ideia de que em cinco dias terá a possibilidade de levantar a moral do elenco, que sabe-se lá como irá absorver as ideias que fazem onze gajos se movimentarem em campo de modo que forme algo próximo da ideia de equipe.

A verdade é uma só, e só não dói ainda mais porque todos já sabemos: só tem time ruim nessa briga para fugir da degola, que seria das mais divertidas caso não estivéssemos nela. Além de Portuguesa (6 pontos), Ferroviária (8), São Bento (9), Ituano (9), Internacional de Limeira (10) e Guarani (10) parecem fazer um esforço enorme para caírem e só não terão sucesso porque só caem dois.

Todos têm confrontos diretos. A Inter, por exemplo, pega Guarani e Ferroviária. A Lusa tem o São Bento em casa já no próximo domingo e uma vitória por dois gols de diferença basta para que passe a turma de Sorocaba. Pelo que jogou – ou não – até aqui, nada além da fé sustenta essa possibilidade. Como desgraça pouca é bobagem, a diretoria teima em manter o preço do ingresso a 60 mirréis no momento em que mais é preciso haver gente que vista verde-e-vermelho ao pé do alambrado para ajudar os tais 11 gajos com a Cruz de Avis no peito a puxarem dos galões e se imporem contra outros 11 tão apavorados quanto com a possibilidade de cair.

E é aqui que ninguém entende. Ou melhor, aqui também. A disputa da Série A1, que deveria ser o clímax a partir da comunhão time/torcida que marcou a conquista da Série A2 do ano passado, tem sido um tormento, um casamento à beira do divórcio. Uma troca de acusações sobre a responsabilidade por vender o mando de campo no clássico com o Corinthians, aquele que foi disputado em Brasília. A justificativa era fazer caixa para pagar as contas, além de reforçar o time.

Pois bem! Trouxeram um lateral-esquerdo, mas como o Fabiano se recuperou da contusão da estreia, agora temos três, mas não há outro centroavante além do Paraízo, que já estava no plantel e uma das vagas ficou aberta.

Ninguém entende. Ninguém se entende.

E ninguém cuja fé não seja inabalável vê a mais remota possibilidade de repetir aquele jogo com o Sport na Ilha do Retiro ou a última rodada da primeira fase do Brasileirão de 1996, que são as duas jornadas que vêm à mente, em que estávamos desenganados, como agora, mas momentos dignos de canonização aconteceram.

Milagres acontecem, mas não há milagre sem santo.

* Marcos Teixeira, 45, é jornalista, lusitano e colunista do site Ludopédio.org

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA

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