BBC compilou falsas teorias e comentários polêmicos no Twitter sobre os quais Musk comentou nos últimos meses. Musk e seus apoiadores dizem que estão ‘desafiando a narrativa estabelecida’
EPA via BBC
O bilionário Elon Musk foi criticado por compartilhar afirmações falsas e enganosas no Twitter, plataforma da qual é dono, nos últimos meses, apesar das afirmações de seus apoiadores de que ele está apenas “fazendo perguntas” ou “desafiando a narrativa estabelecida”.
Musk, o mais seguido do Twitter, costuma ser cuidadoso com as palavras, mas interage regularmente com as principais contas de direita nos EUA, incluindo algumas conhecidas por compartilhar fake news.
A BBC compilou falsas teorias e comentários polêmicos no Twitter sobre os quais Musk comentou nos últimos meses.
Tiroteio em massa no Texas
Musk repetidamente questionou as evidências que mostram que o suspeito de um recente tiroteio em massa em um shopping center do Texas tinha tendências neonazistas.
As contas do atirador no YouTube e na rede social russa Odnoklassniki foram descobertas pela primeira vez pelo grupo de investigação de código aberto Bellingcat, que revelou fotos de uma tatuagem de suástica, longos discursos violentos e um meme que mencionava “crianças latinas” e a frase “tornar-se supremacista branco”.
As contas também foram analisadas de forma independente pela BBC e outros jornalistas, e a polícia afirmou que o atirador “tinha ideologia neonazista”, embora sua motivação para matar oito pessoas permaneça sob investigação.
Mas Musk lançou dúvidas sobre as evidências e, não citando nenhuma evidência própria, alegou que Bellingcat havia executado “psyops” – “guerra psicológica”.
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As operações psicológicas, comumente usadas na guerra ou contra países estrangeiros hostis, são formas de fazer com que os oponentes pensem ou ajam de uma determinada maneira.
Mas a ideia absurda de que as autoridades conduzem regularmente tais operações ligadas a tiroteios em massa ou ataques terroristas para mudar a opinião pública tornou-se uma teoria de conspiração comum nos círculos pró-armas dos EUA.
Musk se referiu a essa concepção popular de psicopatas várias vezes, inclusive em março, quando prometeu combater a “manipulação da opinião pública” no Twitter usando inteligência artificial.
Em resposta, o fundador da Bellingcat, Eliot Higgins, chamou o dono do Twitter de “um idiota que consome mídia-lixo”.
Questionado pela BBC, Musk não respondeu até a conclusão desta reportagem.
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Musk repetiu as alegações em uma entrevista à emissora CNBC na semana passada, alegando que Odnoklassniki era um site “obscuro” do qual “ninguém nunca ouviu falar”.
Odnoklassniki é uma das redes sociais mais populares da Rússia, e a existência do perfil do atirador na plataforma foi revelada pela primeira vez pelo jornal americano New York Times citando fontes policiais e de segurança, antes de ser descoberta pelo Bellingcat usando a função de busca da plataforma.
‘Xamã do QAnon’
Musk lançou dúvidas sobre alguns dos detalhes da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 em várias ocasiões, mas sua opinião mais polêmica veio em março, quando ele pareceu sugerir que um dos manifestantes mais conhecidos havia sido condenado injustamente.
Musk afirmou no Twitter que Jacob Chansley, também conhecido como “Xamã do QAnon”, que foi condenado a 41 meses de prisão, “pegou 4 anos de prisão por uma incursão não violenta escoltada pela polícia”.
O ‘Xamã do QAnon’ durante a invasão do Capitólio
Reuters via BBC
Seu argumento baseava-se em um vídeo curto de Chansley caminhando pelos corredores do Congresso escoltado pela polícia, transmitido no programa do ex-apresentador da Fox News, Tucker Carlson.
No entanto, outras ações de Chansley em 6 de janeiro de 2021 também foram capturadas pela câmera. Ele rejeitou repetidamente as ordens da polícia para deixar o edifício e foi filmado gritando dentro da câmara do Senado.
Chansley foi acusado de seis crimes federais e assinou um acordo judicial aceitando que a acusação de obstrução de um processo oficial era “verdadeira e precisa”.
Ataque a Paul Pelosi
Musk foi criticado no ano passado após compartilhar uma alegação infundada após um violento ataque a Paul Pelosi, marido da então presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi, na casa de sua família por um homem que promoveu uma variedade de teorias da conspiração de direita on-line.
Uma falsa alegação viral sobre o ataque sugeriu que Paul Pelosi, de 82 anos, e seu agressor David DePape, 42, estavam em um relacionamento do mesmo sexo e tiveram uma briga enquanto estavam bêbados.
Embora inicialmente marginal, a alegação começou a ganhar força nos Estados Unidos depois que Musk tuitou um artigo de um site com afirmações semelhantes.
O site citado por Musk tem um histórico de publicação de histórias imprecisas, incluindo um artigo de 2016 que afirmava que Hillary Clinton estava morta.
Ao contrário de outras ocasiões, Musk posteriormente excluiu o tuíte e pediu desculpas pelo erro.
George Soros
Musk também atacou recentemente o bilionário George Soros, cujo financiamento de causas liberais e progressistas por meio de sua fundação filantrópica o transformou em um bicho-papão para conservadores e ativistas de direita.
Musk alegou que Soros “quer corroer o próprio tecido da civilização” e “odeia a humanidade”. Três dias antes, o fundo de investimento de Soros disse que havia vendido suas ações da Tesla.
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Musk comparou Soros a Magneto, um personagem da Marvel que — como Soros — sobreviveu ao Holocausto.
Os tuítes foram condenados pela Anti-Defamation League, o principal grupo de defesa dos judeus nos Estados Unidos, e pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel.
Musk, no entanto, negou que seus comentários fossem antissemitas, dizendo à emissora CNBC: “Sou pró-semita, no mínimo”.