Uma aposta um tanto diferente de tudo o que Shigeru Miyamoto havia feito até então, Pikmin surpreendeu os fãs da Nintendo de forma bem positiva. Por trás dos visuais bonitinhos e das criaturas fofas que carregavam objetos, estava um jogo estratégico, desafiante e charmoso como nenhum outro no início dos anos 2000. Mais de 20 anos depois, ainda é bem difícil encontrar um título que ofereça exatamente a experiência que essa franquia nos traz.
Felizmente, a Nintendo continuou a apostar nela por todo esse tempo, mais recentemente com a chegada de Pikmin 4 ao Nintendo Switch. Os detalhes você confere a seguir, mas já posso garantir que esse jogo é tudo o que um fã de Pikmin poderia querer nessas últimas duas décadas.
A mistura do novo e do antigo
Nos primeiros minutos de Pikmin 4, recebemos um pequeno tutorial básico de como velhas e algumas novas mecânicas funcionam, tudo sob o comando do nosso saudoso Capitão Olimar. Além de ser um ótimo aprendizado para quem nunca jogou um título da franquia antes, também é uma boa lembrança para pessoas que nem eu, que já jogaram os outros três games anteriores anos atrás e não se recordam muito bem de tudo.
Só que o nosso tempo com o Capitão é curto, afinal, ele está apenas nos contando de quando ficou perdido em um planeta inexplorado, precisou recuperar os pedaços de sua nave e como conseguiu enviar um pedido de ajuda para seus companheiros. Uma brigada de resgate é enviada para encontrar o capitão, mas também sofre um acidente, no qual todos os membros da equipe se separam por áreas diferentes do planeta em questão.
A trama claramente não é muito profunda, mas eu não cito isso como um ponto negativo
Neste momento, Pikmin 4 nos permite criar e personalizar nosso próprio personagem, que é nada menos do que um recruta enviado para encontrar Olimar e toda a brigada de resgate em apuros. Em breve, fica claro que ainda há outros exploradores espaciais perdidos pelo planeta, alguns deles sofrendo de alguma mutação que cobriu seus corpos de folhas. A partir disso, nosso dever se estende, já que precisamos achar os sobreviventes, encontrar uma cura para a mutação de folhas e encontrar combustível para nossa nave.
A trama claramente não é muito profunda, mas eu não cito isso como um ponto negativo, afinal, sabemos que a história de Pikmin sempre serviu muito mais para dar um tipo de pano de fundo para o que realmente gostamos de fazer: comandar os Pikmin de forma estratégica através de mapas divertidos, perigosos e cheios de puzzles. A boa notícia é que tudo isso é entregue com maestria em Pikmin 4, muito mais do que em seus antecessores, em minha opinião.
Aventuras sem fim
Como sempre, boa parte da sua aventura se passa em alguns cenários familiares para nós, como jardins, parquinhos e praias, mas tudo gigante aos olhos do nosso protagonista e seus Pikmin. Nossa desculpa para caçar objetos mundanos desta vez é conseguir combustível para a S. S. Shepherd, a nave da brigada de resgate. Além disso, ainda encontramos pedrinhas brilhantes chamadas apenas de “matéria-prima”, que podem ser usadas para construir pontes e paredes escaláveis. Essas pedras também são úteis para adquirir equipamentos especiais vendidos por um dos NPCs que resgatamos logo no início da aventura.
Falando nisso, todos os NPCs que encontramos podem nos oferecer algum benefício, seja para mudar nossa aparência, para oferecer informações sobre criaturas ou simplesmente para nos dar missões secundárias que resultam em mais matéria-prima. Todos esses personagens ficam na base principal, que funciona como uma Hub no início de cada dia de missão. Lá, você escolhe se quer se aventurar de maneira normal em um dos mapas disponíveis durante o dia ou se quer fazer uma exploração noturna.
O gameplay de Pikmin ficou ainda mais divertido com sua variedadeFonte: Nintendo/Reprodução
As excursões diurnas são bem parecidas com o que tínhamos em jogos anteriores, já que procuramos tesouros e recursos, resolvemos alguns puzzles, criamos atalhos para facilitar nossa exploração pelo mapa e matamos inimigos para criar ainda mais Pikmin. A diferença é que agora temos cavernas subterrâneas espalhadas pelos mapas, que funcionam de maneira contida, quase como uma dungeon totalmente separada das nossas tarefas usuais e nas quais o tempo passa mais devagar. Essas cavernas se dividem em dois tipos: as cheias de puzzles, que podem ter múltiplos níveis e chefes no final e as de testes Dandori.
Dandori é uma filosofia explicada como a maneira que você se planeja para realizar suas tarefas de forma eficiente. Essas cavernas Dandori são desafios propostos por um ser misterioso coberto de folhas e que rapta alguns dos sobreviventes perdidos, prometendo entregá-los apenas se nós provarmos que nossas habilidades de Dandori são melhores que as dele. Nós precisamos conseguir a maior pontuação possível dentro de um tempo limite, seja jogando sozinho ou contra esse NPC em mapas cheios de objetos a serem coletados.
Já a exploração noturna funciona como um clássico do gênero Tower Defense, em que precisamos defender uma estrutura de ataques de diversos inimigos durante toda a noite. Isso é feito com um novo tipo especial de Pikmin reluzente, que só pode ser usado em cavernas ou nessas missões noturnas. Tudo isso que mencionamos oferece uma variedade incrível à Pikmin 4, de forma que você precisa até se planejar o que pretende fazer a cada dia de missão, já que opções não faltam e são todas tentadoras.
Querida, encolhi o Salvacão
É claro que nada disso pode ser feito ou explorado sem a grande ajuda de algumas criaturinhas adoráveis. Além dos tipos clássicos de Pikmin, temos duas adições bem interessantes, o Pikmin reluzente (que mencionamos antes), que pode cegar inimigos temporariamente e o Pikmin de gelo, que pode congelar criaturas, certos objetos e a água. Os dois são muito úteis, mas como o reluzente só pode ser utilizado no escuro, não tem uma presença tão constante como a variante de gelo.
O nosso Salvacão foi uma das melhores surpresas de Pikmin 4Fonte: Nintendo/Reprodução
Assim como os dois novatos, os outros tipos de Pikmin continuam a ter papéis específicos que precisam ser levados em consideração na sua estratégia a cada dia. Para quem não lembra, os vermelhos são resistentes ao calor, os amarelos são resistentes à eletricidade, os azuis podem nadar sem se afogar e assim por diante. O bom é que todas as informações de como você pode usá-los e quais são suas forças ou fraquezas são repassadas pelo jogo, então não é necessário ir atrás dos games antigos para aprender sobre os tipos de Pikmin.
Infelizmente, essas plantinhas ainda são bem frágeis e podem morrer se você não se planejar bem quando estiver lutando contra inimigos ou se esquecê-los em algum canto do mapa quando estiver voltando para sua nave após o pôr do sol. A boa notícia é que Pikmin 4 é bem diferente dos primeiros jogos, que me causaram um trauma infantil quando eu não conseguia encontrar uma das criaturinhas à tempo e era forçada a ver minha nave indo embora enquanto o pobre Pikmin perdido corria atrás de mim, mas era devorado por um inseto enorme de noite.
Desta vez, há todos os recursos possíveis para que nenhum Pikmin fique para trás a menos que você queira. O jogo mostra um contador bem grande na tela te dizendo quantos Pikmin ainda estão perdidos pelo mapa, há como aprimorar sua velocidade de caminhada para facilitar a busca pela criatura nessas ocasiões e há até como adquirir equipamentos que fazem os Pikmin perdidos voltarem sozinhos para sua base se não quiser ir atrás deles. Tudo perfeito para que você não se sinta culpado por deixar uma de suas plantinhas para trás sem querer.
As batalhas contra os chefes são assustadoras para quem odeia perder seus PikminFonte: Nintendo/Reprodução
Só que além disso, Pikmin 4 oferece uma companhia ainda mais valiosa, um cachorrinho de duas patas conhecido como Salvacão. Nós encontramos o nosso Salvacão, apelidado de Otchi, nos primeiros minutos de jogo e logo aprendemos que ele é capaz de tudo o que um Pikmin pode fazer, incluindo atacar inimigos e carregar objetos. A diferença é que ele pode ser treinado para melhorar suas habilidades, pode dar investidas para derrubar itens e ainda serve como uma fiel montaria em nossas explorações. Como os Pikmin também podem subir em Otchi, as caminhadas se tornam mais ágeis e dá para explorar terra e água sem medo de machucar as plantinhas que não são aquáticas, por exemplo.
Vale mencionar que, assim como seu personagem, Otchi também possui uma barra de vida, então é mais um aspecto para ficar de olho. Felizmente, ele não morre, só fica inconsciente se a barra se esvaziar após ser atacado inúmeras vezes. Esse é um elemento que pode ser aprimorado mais tarde, o que passa uma grande sensação de progressão ao longo da sua jornada no planeta dos Pikmin.
Jogo da discórdia
Agora que já falamos bastante sobre os principais aspectos de gameplay do modo história, vale a pena mencionar o modo multiplayer. Dentro das possibilidades multiplayer de Pikmin 4, há duas opções : o cooperativo e o competitivo. Dentre tudo neste jogo, o modo cooperativo é a única ressalva que posso apontar, já que o segundo jogador só controla uma mira adicional, pode dar itens rapidamente para o jogador principal e ainda pode jogar pedras em inimigos e certos objetos para causar dano. Até entendo não adicionar um segundo personagem ao mapa, já que poderia ser confuso, mas uma tela dividida com os dois fazendo coisas diferentes seria uma ideia interessante.
Quem diria que Pikmin 4 seria um jogo da discórdia tão bom?!Fonte: Nintendo/Reprodução
Já o modo competitivo é bem mais divertido, afinal, ele só pega os desafios Dandori que mencionamos antes e coloca os dois jogadores em uma batalha pela maior pontuação dentro do tempo limite. O gameplay é super caótico, há múltiplos elementos que podem atrapalhar seu rival e muitas estratégias que certamente vão causar intrigas entre os amigos, especialmente se alguém conseguir virar o placar nos últimos segundos. Infelizmente, as duas opções de multiplayer são locais no lançamento, mas sempre temos aquela esperança de que a Nintendo possa adicionar a opção do modo versus online.
Vale a pena?
Com tudo o que relatei sobre a minha experiência com o jogo, dá para perceber que não faltam me elogios para Pikmin 4. Em sua duração, ele não é tão diferente de seus antecessores e depende mais do seu estilo de jogo, já que dá para focar só nos objetivos principais para terminar a história o quanto antes ou passar horas e horas explorando e fazendo tudo que está disponível. Outro ponto positivo é que o game está disponível em nosso idioma, algo que a Nintendo vem fazendo cada vez mais com seus lançamentos após tantos pedidos de seus fãs brasileiros. Felizmente, não encontramos uma mera tradução, mas sim uma localização de qualidade, que contextualiza tudo o que é possível, em especial as piadinhas do jogo.
No geral, com pouquíssimas ressalvas, posso dizer que o título é exatamente o que eu, e acredito que muita gente, esperava de Pikmin 4. Além de trazer as mecânicas clássicas e divertidas dos primeiros jogos, esse título oferece uma variedade incrível em suas novidades, seja na exploração dos mapas na superfície, nas cavernas repletas de puzzles, nos desafios Dandori, na proteção de torres à noite ou mesmo no caos do modo multiplayer. Dá para dizer que, apesar de estar repleto de criaturas pequenininhas, Pikmin está maior do que nunca.