Em entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira após receber homenagem da Confederação Brasileira de Tênis pelos 20 anos do Ouro do Pan-Americano de Sto. Domingo, Fernando Meligeni comentou sobre o momento da competição.
A Davis é a mais tradicional e importante competição entre países do tênis, mas desde 2019 é disputada em novo formado em melhor de três sets e com finais totalmente na Espanha. Nas últimas semanas o grupo Kosmos, que tem o jogador Gerard Piqué como sócio, rompeu o contrato com a Federação Internacional de Tênis para fazer a operação da competição e vem gerando uma briga judicial entre a empresa e a entidade.
Para Meligeni, a crise na competição não é só culpa dos dirigentes, mas de alguns dos principais atletas. No ano passado vários como Rafael Nadal não estiveram nas finais em Málaga: “Não é só culpa dos dirigentes, o “final” da Copa Davis seria só da Kosmos e do Piqué. É muito mais do que isso. Os atletas têm sua responsabilidade pois pararam de jogar, perderam a noção do que é jogar pelo país”, apontou o ex-tenista de 51 anos que fez duelos memoráveis na competição como em 2000 definindo a vitória contra a Eslováquia, no Rio de Janeiro.
“A gente joga 34, 36 semanas por ano , primeiro ao último dia você pode se representar. O que custa representar (o país) por duas semanas ? Mais nada. É ou não é. Eu, Guga, Jaime, Kirmayr, Thomaz Koch jogamos da primeira à última todas, só não jogamos machucados. Por que ? Pois existe uma palavra que precisamos fomentar mais no nosso esporte. Gratidão. Gratidão pelo país. Pela entidade. Com o público, com as TVs, com tudo que é o meio de um tenista. Se o cara ganha 1 milhão, 100 mil reais é porque ele joga pra caramba, mas também porque tem toda uma engrenagem e a Davis é o grande exemplo disso.
Segundo Meligeni, o valor financeiro recebido na competição era pequeno, mas o que valia era defender o Brasil: “Para Davis sempre foi um prazer. Nunca paramos pra saber quanto ganhavamos, nós ganhavamos bulhufas, só não pagavamos pra jogar. E fizemos uma semifinal (em 2000). Representar o país é uma coisa importante, não só em Olimpíada. Esse é o nosso Mundial . Se os tenistas pegassem duas ou três semanas por ano a Davis e os 27 ou 30 o restante dava pras duas competições seguirem muito fortes. Daí vem o tenista e diz, ah mas vou perder a próxima semana de torneios. Perca, mas represente seu país”.
Meligeni também lembrou da vitória mais saborosa em Davis, contra Kucera em cinco sets na capital carioca: “Cada momento de sua carreira tem um significado, contra o Kucera foi a primeira vez que o Guga me permitiu definir. Ele sempre ganhava os três pontos, a dupla dele com o Jaime era fortíssima , o quinto ponto só sobrou pra mim duas vezes, uma perdi do Carlos Moya e essa . Dependíamos tanto do Guga para fazer os resultados que fizemos. Na hora que pareceu aquele payback pois naquela deles ele estava super estourado. Esse é um jogo que tinha muito a minha cara. Foi um jogo que começa, galera vai embora da quadra, vai pro restaurante, daí sabem que tô virando e voltam. É muito legal, lembro com carinho”.
Fernando também agradeceu a homenagem feita na quadra central do Costão do Santinho, em Florianópolis: “Ninguém pede homenagens, lógico que é super importante pra gente ser reconhecido e ter esse carinho de nossa entidade. Pra mim é uma honra, só agradecer e me emocionar pela escolha de cada pessoa que falou, pessoas super importantes. Em um evento que tem toda minha cara, história. Agradecer ao Rafa (Westrupp) o presidente, a organização. Quando puseram aquela foto do jogo contra o Kucera. Sensação única, incrível. Muito legal voltar a assistir uma Davis e receber uma homenagem dessa”.